Distrito de Joaquim Egidio. Campinas. Estado de São Paulo.

Tuesday, October 24, 2006

O Juizo final.

Laura estava dentro do cristal em um vidro dum vitral, melhor dito, estava dentro da própria luz que o varava. A luz a forçava abaixar a cabeça à fugir os olhos da luz. Também assim a luz a cegava. Então cerrava os olhos. Ainda assim a luz a cegava. Quis responder a uma pergunta mas esta não foi feita. Tartamudeia e responde: sim sou a quê sou. Agora a luz parece mais leitosa, menos aguda, tépida. Como se estivesse dentro de um copo-de-leite cheio de leite que permitisse a ela levantar a cabeça e abrir os olhos, mas ela nada vê, senão que o leitoso branco dentro dos olhos sendo os próprios olhos lácteos. Não ouve perguntas. Ela não pensa em respostas. Nem mesmo o pensamento parece existir, apenas o leite por toda parte. parece não lembrar de nenhuma pergunta, mas ela responde lentamente: sim, também. Os séculos passam entre uma não-pergunta e outra. A luz se apaga lentamente. O branco abruma demoradamente. Já não há mais o branco, o gris... Não há. Imêmore. Completamente.

A Espera.

Anda, anda, anda a espera.
Espera.
Espera, espera, à espera anda.
Anda.




Anda e espera. Espera a andar.
A espera desanda.
O andar desespera.
Desesperando. Desespirando aindanda.
Transpiranda transpirando.
Pira parado.



A quantas andas?
Andava andrajos.
Andava trapos?



Trapaças.
Trespassas?


Eu nos trapos sei a sobras.


De sopas?
De sapos!
Assim soçobras, misses!
Sê sim. És Mis.
Assim na missa.
Sobras e cobras.
Miss em ação.
Andas às cobras.
Espera as sobras de sobejos beijos.



Rastejas a rés dos brejos.
Sem sombras no chão.
Salobras sobras às sombras.
O brejo sabe a uma feijoada de ontem.
Com sua película branca.



Uma aranha que perde o fio.
Que a prendia a teia.
Anda sobre um brejo de feijoada.

Anda aranha.
Me espera.

A estória do trinca-ferro e o Marron.

Marrom é um velho passarinheiro de Joaquim Egidio. Diz a lenda que uma certa feita apareceu na pracinha em frente ao bar do Marcelino Trinca-ferro. O maior cantador que tenha notícia na região. Todo mundo sabe que basta uma boa chama que o Trinca-ferro desce logo. Marrom que mora bem ao lada da praça, correu a casa peguou a gaiola com o seu Trinca-ferro. Montou o alçapão. Engachou-o a gaiola e levou tudo para a praça. Pendurou num tronco de pinheiro e foi para o outro lada da rua. Esperou. Seu Trinca-ferro cantava, chamava, repicava. O passarinho solto cantava, repicava. Era uma sinfonia. Foi juntando gente. Um verdadeiro espetáculo e nada do Trinca-ferro descer. Marrom se impacientava. Tomava uma cerveja. Os Trinca-ferros duelavam. "qualquer outro já teria descido" dizia Marrom. "Esse é meu ou de ninguém" continuava Marrom. A tarde foi chegando. O sol foi caindo sobre Sousas. As pessoas foram aos seu afazeres. O bar do Marcelino recebia os fregueses do fim de tarde. O lusco-fusco chega. "agora ele não desce" disse Marrom, enquanto o infatigável Trinca-ferro continuava a cantar. Marrom recolheu sua gaiola. Levou à casa. O Trinca-ferro continua a cantar. "Deixe o bicho solto" disse alguém. Marrom voltou à rua com uma cartucheira e fuzilou o Trinca-ferro. Meu ou nada.